Proibida a entrada a menores de 60 anos

Muitos deles vêm "de vez em quando" à Horta e praticamente nenhum tinha estado no Teatro Faialense até ontem. Chegaram devagarinho, foram entrando, rindo, conversando, soltando aqui e ali espantos pela boca e lá se acomodaram para ver "uns rapazes da cidade" que iam fazer teatro. Começámos e o melhor aconteceu... Havia quem comentasse abertamente o facto do Angelo escrever às escuras, outros diziam "ai agora é que vai ser", a primeira fila bradou à tarrafa "Ai Jesus aquilo até podia cair na cabeça de uma pessoa", saltou meio teatro na luta entre as duas personagens e jurou-se a pés juntos entre a plateia "o rapaz picou-se todo, tou-te a dizer", outro houve que perante uma conversa mais monótona daquela gente do palco, adormeceu e bem alto ressonou contaminando risos na periferia mas melhor que tudo isto foi o nosso querido, vamos chamar-lhe, Ti Manel que tão deliciosamente ignorou o aviso de "reservado" no camarote central onde a personagem Tomé vai ler uma carta no meio da peça. Em plena cena, o Tomé entra no camarote para ler a carta e encontra o simpático homem, com o seu chapéu, acomodado na cadeira preparada para o actor, a apreciar o espectáculo. Pergunta-lhe "Ó Senhor, pode só dar-me um jeitinho para eu ler aqui uma coisa?" ele responde "És do Teatro?", Tomé acede, "Então está bem". A luz frontal para o camarote acende-se e todos puderam ver o Tomé, de pé, num momento solene a ler a carta que tinha falsificado, e o Ti Manel, sentado atrás dele, de cara enrugada, proporcionando o que para mim é uma das melhores fotografias de espectáculo que vi até hoje..
Ontem no Teatro Faialense não fomos nós que fizemos o espectáculo, foram eles, e só posso agradecer muito, muito, muito, poder encontrar aquelas caras quando no fim de tudo as luzes se acenderam. De todos os espectáculos que fiz, das várias peças, das vezes que pisei o palco, nunca tinha sentido a comoção que ontem me preencheu.
Obrigado.